segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Os ensinamentos no espelho



“Sabei que a infinidade de almas humanas são todas reflexos do mesmo Espírito Divino, as semelhança de milhões de imagens de um mesmo objeto refletidas em milhões de espelhos dispostos em torno dele.” – Sutra Sagrada Palavras do Anjo
Como adepto da Seicho-No-Ie, eu sempre procuro ter uma clara distinção entre o falso e o verdadeiro, o real e o imaginário, ilusão e pecado, vida e morte, de modo que eu possa compreender claramente o estado em que estou e diferenciá-lo de quem eu realmente sou.
Tudo é muito simples e ao mesmo tempo muito complexo, sem essa compreensão não podemos saber de que lado está Deus. E equivocadamente poderemos até pensar que Deus não nos ama, ou se nos ama, são tantos filhos para amar, que estamos esquecidos em um quarto escuro.

Em minha recente passagem pelo Vaticano, impressionei-me com a sua opulência, ao mesmo tempo em que me choquei com o seu vazio e com as suas frias e belas obras de arte.

Bem, essa é uma impressão muito pessoal, sendo assim não há tome como verdade, com certeza a sua impressão será completamente diferente da minha. Alguns dias atrás eu estive com uma amiga, que voltou de uma temporada de seis meses na África, que também passou pelo Vaticano e me contou que chorou na Capela Sistina, e olhe está foi a sala mais vazia de minha visita, talvez pela expectativa que eu tinha para conhecê-la não sei, é sem dúvida uma capela impressionante, famosa pela sua arquitetura, inspirada no Templo de Salomão do Antigo Testamento, e sua decoração em afrescos, pintada pelos maiores artistas da Renascença, incluindo Michelangelo, Rafael, Bernini e Sandro Botticelli realmente impressionam qualquer visitante, mas na verdade o que eu esperava, ali, era sentir Deus. Talvez por eu não ter uma fé genuinamente católica isso não foi possível como  o foi pra a minha amiga. Em 2008, por exemplo, quando estive na Disney não pude conter as lágrimas diante da parada e da passagem do Mickey, já minha amiga teve a mesma emoção na Capela Sistina, isso faz das experiências de cada um algo sempre tão singular.

Claro que me encantei com Roma, uma cidade eterna, milenar, cheia de segredos, e belezas, como descendente de italianos era como me sentir no quintal de minha familia... vi em muitas senhoras o andar de minha vó Zelinda, agora entendi porque na casa de minha tia, todas falam ao mesmo tempo com a sua narrativa, claro uma história diferente da outra... nas ruas o cheiro do almoço tem o aroma da casa da minha avó Maria, entendi também porque quando abro a boca, são minhas mãos que falam...e também de onde vem a alegria esfuziante de minha mãe, e até a minha grosseria monossilábica... Pequenos traços de nossos antepassados presentes em nós. Antenati, grazie, Mamma grazie. Grazie Babbo!!

Em duas basílicas pude meditar e foi uma fantástica oportunidade.

Deparei-me com tanta obra de arte, que ainda vai levar um tempo até que eu me de conta de tudo o que de fato pude ver, Deus também se manifesta no belo, e perdoem minha insensatez, de não tê-lo notado em meio a tanta obra de arte.

Mas por graças enquanto estava com amigos procurando souvenir em uma pequena lojinha, conheci uma Freira, brasileira que há sete anos vive na Itália, foi um rico, alegre e encantador encontro, suas palavras eram revestidas de uma fé e uma alegria, espiritualidade e bondade sem igual e ali na loja de uma chinesa pude sentir a presença de um Deus vivo, mesmo no vazio.

É estranho como o vazio, pode estar na mente, estou muito distante da fé católica, embora eu tenha sido batizado na adolescência, como minha família tradicionalmente descende de berços evangélicos, e há quase trinta anos pratico a Seicho-No-Ie, distancie-me muito dos seus dogmas e não os conheço tampouco suas tradições.

Embora cada um possa ter a sua experiência e a sua própria comunhão com Deus, sua onisciência e presença se estabelecem por meio das leis. Deus é lei. A Lei é o Amor é a Misericórdia.

Este assunto é deveras complexo, abre muitas variáveis, difícil até pra refletir, são muitas perspectivas, mas aqui quero me concentrar entre o que é real e o que é imaginário, o que é fenômeno e o que é Imagem Verdadeira.

Imagem Verdadeira, quando se trata do ser humano também é conhecida como “Eu Real” ou mesmo “Eu Autêntico”, ou mesmo o “Eu” criado a imagem e semelhança de Deus, o “Eu Divino” e por aí vai.

A nossa vida, humana terrena é apenas um reflexo deste “EU”, e não constitui o “EU” em si, de modo que chamamos este eu de: “eu fenomênico”, uma existência que não é perene.

E nossa caminhada na terra, neste palco, nesta experiência, passa ser uma aventura pra rememorarmos quem de fato somos, neste aspecto cada experiência passa ter suma importância para o despertar espiritual. Entendemos como despertar espiritual a mutação do eu fenomênico para uma vida livre onde manifestamos toda a potencialidade do “Eu Divino”, aqui nesta vida limitada.

Estamos falando do eu, mas em todos os aspectos do viver humano e suas inter-relações com o ambiente notamos também a existência do que é falso e do que realmente é “Real”.

Na natureza, por exemplo, em suas múltiplas formas, onde podemos o tempo todo apreciar o belo, nos deparamos com a manifestação da Imagem Verdadeira no fenômeno a esse aspecto denominamos de: “Fenômeno Autêntico” justamente por refletir sem contaminar-se com as intempéries dos sentidos, manifestando a Real beleza do Mundo da Imagem Verdadeira.

Assim também denominamos que existe um “Mundo da Imagem Verdadeira”, também conhecido como “Reino dos Céus”, ou mesmo “Mundo Perfeito Criado por Deus” e existe o mundo fenomênico, mas o mundo fenomênico não é apenas o mundo terreno, uma vez que ele abrange outros reinos, como o mental, o espiritual, o reino dos infernos, o reino dos deuses como são identificados no Budismo.

Mas como distinguir o que é falso do que realmente é Verdadeiro?
Mas como então diferenciar o estado em que estou do homem que sou?
Primeiro ainda que em conceito, é preciso compreender que o homem verdadeiro, o homem da Imagem Verdadeira é perfeito, supremo.

Mas enquanto seres humanos penso que é preciso ter consciência da diligencia necessária dentro das nossas limitações para não manifestarmos uma arrogância e escondermos os nossos defeitos atrás desta verdade e viver de modo furtivo esquivando-se de nossos deveres, e da nossa diligencia na contemplação e pratica do bem. 
Sendo assim, precisamos pensar em nossos defeitos, porque se não tivermos consciência deles não sentiremos motivação para superá-los.

Ouvi certa vez um ensinamento a cerca do Buda, onde ele disse que aqueles que compreendem suas próprias falhas são sábios, ao passo que aqueles que as ignoram e, além disso, procuram defeitos nos outros são tolos.

Há quem diga que um dos nossos principais problemas seja a falta de auto-estima e que precisamos nos concentrar em nossas boas qualidades para aumentar a nossa autoconfiança, é verdade que este é um caminho, inclusive para termos progressos espirituais precisamos ter autoconfiança, reconhecer e aperfeiçoar as nossas qualidades.
                                                                                                     
Contudo, gostaria de expor outro ponto de vista, precisamos de um modo pratico lançar um olhar realista para os nossos defeitos e para as nossas imperfeições aparentes. Se formos honestos conosco, reconheceremos que possuímos inúmeras falhas, veja bem possuímos não somos, essa é a boa notícia e sendo assim reconhecendo-a poderemos nos livrar delas.

Precisamos esquecer quem pensamos que somos, para descobrir quem realmente somos.

Nossa mente, possuí diversos aspectos, em alguns momentos nos comportamos como perfeitos e autênticos, como reflexo fiel do homem da Imagem Verdadeira.

Em outros momentos nos debatemos tentando descobrir quem somos, ou quem fingimos ser, ou mesmo quem tememos ser. Enfim essas doenças mentais não irão desaparecer apenas porque fingimos que elas não existem. Devemos, pois reconhecer a existência destas nossas falhas para a partir daí mergulharmos em quem verdadeiramente somos.


Por mais numerosas e fortes que sejam nossas imperfeições, elas não fazem parte de nossa essência. São aspectos que as encobrem, temporariamente as poluem, mas que não contaminam a nossa natureza essencialmente pura. Elas são como lodo que, apesar de turvar a água, jamais se torna parte intrínseca da mesma. Assim como é possível remover o lodo, também podemos remover todas as nossas imperfeições.

Assim é preciso ter consciência de nossa Imagem Verdadeira, para aqui neste mundo dos sentidos e das imperfeições cultivarmos uma mente desperta que é capaz de eliminar e extinguir do nosso modus vivendi, todas as nossas falhas.

Quando olhamos para as coisas ao nosso redor somos capazes de distinguir aquelas que são uteis e valiosas daquelas que não o são. Precisamos aprender a olhar para a nossa mente da mesma maneira, distinguindo quais pensamentos nos aproximam de quem somos, e quais nos afasta de nossa natureza divina. Precisamos observar a nossa mente o tempo todo e aprender como não cultivar pensamentos prejudiciais para a nossa existência.

Identificando os nossos pensamentos no espelho, do mundo fenomênico, e investindo grande esforço, para mudar a nossa mente, até a mais cruel das pessoas poderá transformar-se num ser completamente puro.

É no mundo que nos cerca, onde vemos refletidos os nossos pensamentos, e é na sua observância que podemos mudar o nosso modo de pensar.

Uma vez em um seminário na Academia de Treinamento Espiritual de Ibiúna, as senhoras da Seicho-No-Ie propuseram o seguinte exercício para os membros da comissão: toda vez que um pensamento negativo surgisse na mente, elas deveriam colocar uma pulseira vermelha, e sempre que elas gerassem um pensamento positivo deveriam colocar uma pulseira branca, no final do dia contava as pulseiras, e assim no dia seguinte treinava ainda mais vigorosamente e se predominassem as brancas, se elogiava e encorajava-se para continuar pensando de modo harmonioso. Era possível ver nos primeiros dias, muitas pulseiras vermelhas, mas aos poucos elas foram sendo substituídas pelas brancas. Não sei como na pratica podemos nos auxiliar deste método, mas se cada um encontrar o seu ponto de observância acredito que teremos grandes progressos.

Conheço grandes preletores da Seicho-No-Ie, que se observando no espelho, puderam vigiar a sua mente o tempo todo, e avaliando-a com completa honestidade se tornaram puros e até possuem aspectos sagrados. Espero atingir esse estágio.

Assim observando a nossa mente no espelho dos seus ensinamentos, teremos um claro entendimento de nossas falhas e uma grande oportunidade para supera-las, precisamos tomar consciência de nossos defeitos, se formos honestos e diligentes em nossas praticas seremos capazes de compreender o que devemos abandonar para manifestar a nossa Imagem Verdadeira.

Vejamos agora outro ponto – o amor.

Ninguém deseja permanecer pra sempre no mesmo estágio, como um ser comum vivendo na ignorância do desconhecimento da Verdade, todos nós queremos nos aperfeiçoar e avançar para estados mais elevados. O estado mais elevado de todos é o despertar espiritual, e a estrada principal que conduz a iluminação, são as realizações de amor.

Só podemos cultivar o amor na dependência de outros seres vivos. Como aprenderíamos a amar se não houvesse ninguém para amar?

Lembro-me de uma palestra que ouvi, há muito tempo atrás a respeito da, pratica espiritual, de dedicação de amor ao próximo, divulgando Revistas Sagradas da Seicho-No-Ie;  deveríamos aproveitar todas as pessoas na nossa divulgação, para abençoa-las desejando-lhes felicidades, principalmente as que rejeitavam receber as revistas.

Deveríamos adotar essa postura na vida cotidiana, e mantê-la o tempo todo, reconhecendo que precisamos de todos os seres vivos podemos incrementar a nossa pratica espiritual abençoando todas as pessoas. Mantendo essa postura, nossos problemas interiores de descontentamento raiva, apego, ego, inveja etc., vão diminuir e viveremos com amor de modo natural. Em particular, sempre que alguém se opuser aos nossos desejos ou nos criticar, devemos, lembrar-nos de desejar do fundo coração que todos sejam felizes, fazendo desta atitude uma pratica espiritual.

Claro que não é simples e fácil assim, se todos nos tratassem com a bondade e o respeito que nosso ego julga merecer, isso só reforçaria nosso egoísmo e esgotaria os nossos méritos advindos das praticas de abençoar e amar as pessoas. Tente imaginar como seria se tivéssemos tudo o que desejamos, provavelmente agiríamos como crianças mimadas, como centro do universo e de quem ninguém gosta. Precisamos treinar a nossa mente para amar e tornar a nossa vida realmente significativa.

Se mantiver na mente o ensinamento do homem da Imagem Verdadeira, fica fácil contemplar todos como perfeitos e desejar-lhes que essa perfeição se manifeste. Costumamos dizer que a água do mar é salgada, mas de fato, é a presença do sal na água que a torna salgada, não é a própria agua. O gosto real da água não é salgado. Da mesma forma todas as falhas e defeitos que identificamos nas pessoas não são reais, são ilusões e não as pessoas em si. Precisamos distinguir o homem da Imagem Verdadeira dos defeitos dos homens. Às vezes rotulamos as pessoas tomamos as suas aparentes ilusões como verdadeiras, tipo fulano é egoísta, beltrano é alcoólatra e assim por diante, mas veja bem se por algum acaso um amigo seu está doente, não iríamos culpa-lo por sua doença física; do mesmo modo, não devemos culpar as pessoas por suas doenças mentais originadas nas ilusões e no desconhecimento da Imagem Verdadeira.

Quando uma pessoa está manifestando uma ilusão, não devemos acusa-la, pois a ilusão e o seu “Eu Real” são duas situações distintas. A falha de um microfone, não é a falha de um livro, a única reação adequada diante de alguém que, dominado pela sua ilusão, maltrata os outros é desejar a sua felicidade contemplando o seu aspecto “Real”.

Deste modo devemos distinguir o ser humano “Real” de suas ilusões. Também devemos lembrar que as ilusões são características temporárias e ocasionais da mente iludida, não é a verdadeira natureza da pessoa, deste modo ela também compreendendo sua natureza real, sua Imagem Verdadeira, e praticando os ensinamentos poderá abandonar todas as ilusões.

É obvio que se nós temos falhas os outros também as possuem. Em certo sentido isso é verdade, já que o homem do mundo fenomênico possui ilusões mentais, e tais ilusões apresentam-se muitas vezes como falhas, mas o que nos interessa aqui não é julgar se eles possuem falhas ou não, mas sim qual a maneira mais benéfica de enxerga-los, sendo práticos, devemos ter como principal tarefa eliminar as falhas da nossa mente e aperfeiçoar o nosso amor por todos os seres vivos. É extremamente benéfico olhar os nossos próprios defeitos e extremamente prejudicial olhar os defeitos dos outros. Mas lembre-se até as nossas falhas são aspectos da nossa ilusão mental, e não constitui a nossa Imagem Verdadeira. Essa visão impede que nos identifiquemos com os nossos defeitos, sentindo-nos culpados e inadequados, e nos ajuda a encara-las com responsabilidade de modo realístico e pratico e poderemos superá-las e extingui-las do nosso modo de viver. Assim podemos pensar o “ego” está na minha mente, mas não faz parte de mim, posso destruir o “ego” sem destruir a mim mesmo. Deste modo conseguiremos ser implacáveis com nossas ilusões e pacientes e bondosos conosco.

Não devemos levar uma vida, onde se vasculha o passado procurando encontrar um culpado, não há porque ficar procurando as heranças das vidas passadas, contudo, se desejamos que nosso futuro desfrute de paz e felicidade, temos que remover do cotidiano as ilusões da mente. O tempo todo nós estamos olhando no espelho, por que não enxergamos os seus ensinamentos? Só que não adianta tentar limpar o espelho, devemos sim, limpar a nossa mente, escolhendo novas atitudes, sendo diligentes e assumindo um novo modo de vida.

Os livros da Seicho-No-Ie poderão lhe auxiliar eles são excelentes guias, para quem busca viver uma nova vida. Mas do mesmo modo que um doente não se cura apenas lendo a bula dos remédios; não poderemos curar nossas ilusões, apenas lendo e estudando os livros. Só conseguiremos solucionar os nossos problemas diários colocando na nossa mente e em nosso coração a Verdade da existência única do bem, e da Imagem Verdadeira e honestamente buscar um modo de viver que pratica os ensinamentos no cotidiano.

...estudando os livros, vigiando, minha mente,
praticando os ensinamentos.
Ariovaldo Adriano Ribeiro.

fotos by Ariovaldo Ribeiro

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A reciprocidade do espelho

É no lodo, quando se vão às tempestades e o lago se acalma, que desabrocha a flor de lótus. Sem contaminar-se com o “fétido”, ela apresenta toda a sua pureza e sublimidade.

Um dos principais entraves na prática espiritual consiste em não tomarmos o “ambiente” como o professor que sempre nos orienta. 
Aquele que aguça os “olhos e ouvidos da mente” consegue captar tudo, ouvir e apreender, mas aquele que debate-se em si, e coloca- se  no papel de vítima não consegue sair das lições primárias da vida.
O fato é que o ambiente é o nosso grande mestre e também o maior aliado na prática espiritual que exerce a função de um grande espelho no qual podemos ver refletida todas as nossas atitudes mentais.
A respeito do espelho a Seicho-No-Ie nos ensina, no livro Namoro Casamento e Maternidade no capitulo Sobre a Formação do Lar e do Destino, que no cotidiano vemos a nossa vida refletida no outro através desta experiência que é a “reciprocidade do espelho”.
Cabe aqui compreender que essa experiência não tem por função fazer com que o homem torne-se carrasco de si, que a se ver no outro pense apenas em quanta maldade existe oculta em seu interior.
Muito pelo contrário o objetivo desta função é justamente o convite para uma reflexão profunda e uma realística mudança de atitude.
Sem compreender a função exata da “reciprocidade do espelho” os homens vivem se auto definindo, carrascos, heróis, invencíveis, e por aí vai..., as vezes  de um modo até simplório. Muitos destes rótulos não chegam a ser inadequados, mas podem ser usados de maneira perniciosa e mesmo prejudiciais.
O ato de rotular-se pode ser um impedimento específico ao crescimento, por exemplo.
É cômodo usar o rótulo como uma justificativa para permanecer o mesmo. Soren Kierkegaard escreveu: "Desde que você me rotule, está me negando”, ilustrando muito bem que o rótulo não constitui o “eu”.
Na psicologia multifocal (Cury 2008) encontramos que todos os sentimentos autodestruidores  do tipo "eu sou" são o resultado do uso de quatro sentenças neuróticas:
1. "Eu sou assim." 2. "Sempre fui assim." 3. "Não posso evitar isso." 4. "Esta é a minha natureza."
E cada vez que você usa uma dessas quatro sentenças, está realmente dizendo: “É verdade, e pretendo continuar sendo do jeito que sempre fui." Esta mente  é o retrato de um auto abandono.
Agora quando e como foi que assumimos estas características?
Os primeiros tipos de rótulos, na nossa história costumam vir de outras pessoas. Foram pregados quando éramos crianças e os carregamos até hoje. Alguém disse e alguém acreditou.
Os outros rótulos são resultados das escolhas, para se proteger da obrigação de cumprir tarefas desconfortáveis ou difíceis.
A primeira categoria é, sem comparação, a que prevalece mais,  é a mais aceitável, claro, sempre alguém tem culpa. Mas é a segunda que nos chama mais atenção, por ser o resultado de uma escolha pessoal.
Pela experiência da reciprocidade do espelho, o certo seria que ao ver os outros pudéssemos optar por melhorias em nosso modo de viver, nos presenteando com refinamentos no comportamento, alterando o modo como nos colocamos na vida.
As praticas espirituais são grandes aliadas, pois realizam a cura interior.

Agora, quando eu não enxergo, estes rótulos?
E, quando são invisíveis aos meus sentidos?
Aqui é que realmente entra a pratica espiritual, e a consciência da reciprocidade do espelho. O ambiente apresenta-se como o  mestre, que nos mostra através dos exemplos do cotidiano, o que e onde, devemos trabalhar pra justamente, libertar-se dos sofrimentos.
Essa é uma das lições, que confesso mais difícil, da minha pratica espiritual. Como adepto da Seicho-No-Ie no que diz respeito a minha cura interior, tenho, que ter capacidade de compreender que tudo e todos refletem aspectos ocultos da minha própria mente.
O encontro com o outro, na verdade passa a ser o encontro com o meu “eu” mais profundo expresso na figura do outro.
Entender claramente que tudo reflete um aspecto da minha mente, é realmente uma das lições mais profundas, e  são elas que podem oportunizar as melhorias na vida. Quando de fato compreendermos que tudo parte de nós, e a nós que retorna, não teremos mais que justificar.
A justificativa é um dos piores entraves da mente humana.

Vamos tomar, por exemplo: a raiva.
A raiva é um veneno interior ela não tem nenhum valor ou justificativa, veja bem, ainda que eu justifique que o outro está provocando em mim esse sentimento, o que temos que entender é: sou “eu” quem estou com raiva e sua única função é me causar danos.
Então sendo assim, se o outro, desperta em mim esse sentimento, ainda que eu tenha todos os motivos, o mestre ambiente está ensinando-me através desta experiência que eu não estou de fato em harmonia.
Qual seria a atitude de uma pessoa que está em harmonia?
Claramente perceber que: o que o outro faz, é só um problema dele. Na verdade não é o que ele faz, mas a resposta que eu dou ao que ele faz ou ao que está fazendo, é que vai fazer a diferença.
E se eu der só o que eu recebo, nós nunca vamos sair do lugar.
Alguém precisa assumir a responsabilidade de dar ao outro o que o outro não espera receber.
Essa atitude convida através deste ato desprendido de intenção, o outro à uma reflexão profunda. E ele até poderá com isso mudar a sua própria atitude, claro que será de sua livre escolha.
Outro aspecto da mente em harmonia consiste justamente em ter “compaixão” pela atitude do outro e orar pela sua felicidade.  Ao desejar que o outro seja feliz, ao orar pela sua felicidade você estará cobrindo a atitude do outro com amor. E incomodado com o amor que recebe preste atenção, sem ao menos saber de quem recebe, ele também poderá mudar a sua atitude.  Assim não existe mal algum.

O que aparenta ser um mal é apenas o reflexo do meu próprio pensamento.

Então nunca devo pensar em corrigir o outro, devo trabalhar exclusivamente o meu “eu” interior.
Vamos tomar outro exemplo: ao ver um filme triste, o que lhe vem à mente? Que sentimento esse filme desperta em você? Como ser humano é natural que tenhamos um sentimento de compaixão por todas as pessoas que sofrem, pois ainda que desconhecemos, originariamente todos somos um. A questão mais profunda a refletir é se passado o filme o meu coração continua sentindo essa profunda tristeza? Se essa tristeza me acompanha dias, na verdade ela não veio do filme, o filme apenas despertou a tristeza que estava na minha mente.

Complicado não? Afinal quem eu sou?
O conceito de carma é bastante difundido e já é de fácil aceitação, assim problemas, preocupações dores e tristezas são tipos de vibrações arquivadas no solo da nossa mente  constituindo nossos carmas. Claro que alegrias, amor, compaixão, garra, resiliência também são vibrações arquivadas solo da nossa mente e comumente os chamamos de carmas positivos.
Então eu sou o acúmulo das minhas vibrações, ou melhor, das minhas escolhas.
Em suma, precisamos dos outros para o nosso bem estar físico, emocional, social e espiritual. Sem eles, não somos nada. Nossa impressão de que somos autônomos é infundada. Claro, somos distintos, mas intimamente somos todos ligados.
O Professor Masaharu Taniguchi, nos ensina no livro que citei acima, que é por isso, que ao vermos o outro, brota em nós o desejo de conhecê-lo.
Somos separados, mas iguais, iguais, mas diferentes.
Contudo não podemos existir sem os outros, e eles, por sua vez, são afetados por tudo o que fazemos.
E é justamente o contato com o outro que nos dá oportunidade de conhecer quem somos.
Pois é o outro que revela o nosso interior, esta é a função do espelho, ver o nosso reflexo.
Sendo assim a ideia de que podemos garantir o nosso bem estar, ignorando o dos outros, ou até à custa deles, ou mesmo os usá-los como trampolim para o nosso êxito, é completamente irreal.
Refletindo as inúmeras facetas dos encontros e dos desencontros, devemos tomar a firme decisão de amar a todos os seres.

Como?
Se quisermos melhorar o nosso modo de viver, temos que abandonar os apegos, abandonar os julgamentos e doravante agradecer todas as oportunidades que nos fazem crescer, nos fazem compreender, nos fazem libertar dos sentimentos autodestruidores.
Essa mudança de concepção de vida acontece sempre com uma tomada de decisão.
Fundamentados nesta determinação, geramos um sentimento de apreço, uma sensação de que todos os seres são importantes e de que a felicidade de todos nos interessa.
Essa é a mente de amor, de modo que, sempre ao pensar em alguém, pensemos naturalmente: “Essa pessoa é importante, em minha vida, e a felicidade dela também é muito importante”. Dessa maneira nossa pratica espiritual buscará sempre levar a felicidade para o outro, uma vez que ela é importante e lembre-se importante, sobretudo pra a minha cura interior.
Uma outra razão para amar a todos, é que justamente esse é o melhor método pra solucionar todos os problemas.
Uma vez participei de um treinamento para os funcionários da Seicho-No-Ie e nossa consultora, Fátima Trindade, de um modo muito engraçado e peculiar nos transmitiu este ensinamento dentro de uma brincadeira, que consistia sempre em ao ver o outro mentalmente vibrarmos: “Eu gosto de você”.
Veja a inveja, por exemplo, é o estado mental que não consegue suportar a boa sorte alheia; mas se apreciarmos alguém, como o seu sucesso perturbaria a nossa mente?
Apreciando genuinamente todas as pessoas, agiremos sempre com amor, alegria e contentamento, e eles retribuirão a nossa bondade.
Seremos bem tratados, semearemos carmas positivos no solo da nossa mente, e não haverá fundamento para conflitos e disputas.  As pessoas virão gostar de nós, e nossos relacionamentos serão mais estáveis e satisfatórios. Esse tipo de mente nos liberta inclusive do “apego”.
É frequente nos apegarmos a uma pessoa pensando que ela vai nos ajudar a superar a nossa solidão, nos dar conforto ou mesmo o estímulo que necessitamos.
É preciso desejar que o outro seja em primeiro lugar feliz. Temos que aprender a dar.
O natural é o homem ouvir a mulher e cuidar dela! Não disputar com ela, falsos joguetes, agir com desprezíveis atitudes. Ela ao sentir-se cuidada e protegida, por sua vez, irá colocar  o homem como centro de sua vida.
São papeis, tudo o que a mulher mais deseja é ser compreendida e cuidada, quando ela apreender a dar, ou seja, quando ela passar a colocar o homem em sua função como centro ela será cuidada.
O homem sente-se pleno quando ele é o progenitor, quando ele é quem sabe, veja bem isso não significa que ele sabe, ele só precisa pensar que sabe, tenho que rir, enfim quando existe este respeito mútuo, e admiração, cada um em sua função, é possível caminhar sentindo cada vez mais apreço um pelo outro. Isso os torna um, os transforma em “magneto” da boa sorte, saúde e prosperidade. Não importando se a mulher, por exemplo, passa a ter um salário maior que o do homem, foi a harmonia de ambos que atraiu essa situação.
Assim, ao invés de nos apegarmos ao outro desejando satisfazer as nossas necessidades, vamos querer ajuda-los a satisfazerem seus desejos e anseios.
Apreciar os outros é a proteção suprema contra sofrimentos e problemas e no capacita a viver em harmonia.

Todos os nossos sofrimentos são resultados dos carmas negativos, e a fonte primária é o ego.
Porque temos um senso tão exagerado da nossa importância, frustramos os desejos das outras pessoas a fim de satisfazer os nossos.

Levados pelo ego, não pensamos em duas vezes para destruir a paz mental dos outros e causar-lhes angústias. Tais ações só servem para plantar sementes de sofrimentos futuros.
Se amarmos os outros genuinamente não teremos desejos de feri-lo e vamos parar de nos envolver em situações destruidoras e prejudiciais.
É vergonhoso esse modo de viver.
A principal razão porque não amamos todos os seres vivos, é que estamos tão preocupados conosco que sobra pouco espaço em nossa mente para gostar dos outros.

Se quisermos mudar a nossa mente, teremos que reduzir o interesse obsessivo que temos por nós mesmos.
Uma das principais funções do espelho é fazer justamente que eu reconheça as minhas falhas.

Também podemos usar a reciprocidade do espelho, para distinguir as atitudes do “ego” das atitudes genuínas do amor.
Sempre que eu estiver pensando, fazendo ou agindo de modo a prejudicar o outro, aí está o ego. Sempre que eu estiver dando o melhor pra o outro, pensando em sua felicidade aí está o amor.

Estes sentimentos podem ser facilmente confundidos, mas é fundamental, diferenciá-los, pois o amor só traz felicidade, ao passo que a mente do ego só nos trará sofrimento e nos prenderá cada vez mais no carma negativo.
No instante que notarmos o surgimento do apego, do ego, devemos ficar alertas – por mais prazeroso que pareça ser, seguir nosso ego, é como ouvi certa vez, estarei lambendo mel numa lamina de navalha, este prazer fatalmente trará sofrimentos.

Porque consideramos nosso falso eu, tão importante, exageramos nas nossas boas qualidades, cultivamos uma imagem inflada a nosso respeito, que quase tudo pode servir como base para nossa arrogância, tais como: nossos conhecimentos, aparências, posses, experiências e status. Somos capazes de gerar “orgulho”, até pelas coisas que deveríamos nos envergonhar como a nossa habilidade de ludibriar os outros. Passamos tanto tempo contemplando a nossas qualidades do “ego” que nos esquecemos das nossas falhas. 
Neste estágio, nossa mente está repleta de “ilusões” grosseiras, mas nós as ignoramos e até nos iludimos achando que não temos essas mentes repulsivas.

Isso é como varrer a sujeira pra debaixo do tapete e fingir que a nossa casa está limpa.
É tão doloroso admitir nossos defeitos, que inventamos todo tipo de desculpas e mentiras para conservar a imagem sublime que temos de nós mesmos.  A estratégia mais comum para não encarar as nossas falhas é culpar os outros.

Por exemplo, se temos uma relação difícil com uma pessoa, logo concluímos que a culpa é inteiramente dela e não conseguimos admitir que somos, pelo menos, parcialmente culpados.
Em vez de assumir a responsabilidade pelos nossos atos e nos esforçar para mudar de comportamento, discutimos com os outros, e insistimos que eles é que devem mudar.

Essa visão exagerada da nossa importância é que gera grandes conflitos.
O fato de estarmos desatentos as nossas falhas não impede que elas sejam notadas e apontadas pelos outros, e quando isso acontece, achamos que eles estão sendo injustos conosco.  Ao invés de encarar com franqueza o nosso comportamento para verificar se a critica tem fundamento, nossa mente do “ego” assume a defensiva e passa a retaliar os outros encontrando defeitos neles. Somos especialistas em apontar as falhas dos outros, e investimos uma grande energia mental, enumerando-as, analisando-as, e até meditando sobre elas.
Fixando-nos somente em suas falhas e limitações, ficamos irritados, ressentidos e, ao invés de apreciá-los, desejamos prejudica-los e desacreditá-los. Desta forma pequenas desavenças se arrastam por meses, anos vidas e reencarnações sucessivas.

Na reciprocidade do espelho, devemos assumir a atitude nobre de buscar as qualidades do outro, elogiá-las e trabalharmos para o seu florescer.
No combate as nossas mazelas, vamos até o fim, as praticas espirituais, processam em si a purificação suprema, e nossa atitude de sempre elogiar e agradecer a tudo nos coloca em harmonia com o universo.

Aprendendo a amar,
buscando esse modo de viver.  
Ariovaldo Adriano Ribeiro

De  uma das muitas igrejas de minha avó:
Vaso Novo
Eu quero ser Senhor amado,
Como um vaso nas mãos do oleiro
Quebre a minha vida e faça de novo
Eu quero ser, eu quero ser, um vaso novo
Como tu queres, Senhor amado
Tu és o oleiro, e eu o vaso
Quebra a minha vida e faça de novo
Eu quero ser, eu quero ser, um vaso novo
Hoje é tempo de louvar a Deus
Em nós agora habita o seu espírito
Então é só cantar, e a Cristo exaltar
E a sua glória encherá este lugar
Vem louvar, vem louvar
No meio dos louvores Deus habita
É seu prazer cumprir o que nos diz
Então é só cantar, e a Cristo exaltar
E sua glória encherá este lugar
Vem louvar, vem louvar.
Eu te louvarei senhor
De todo o meu coração - bis
Na presença dos anjos a ti cantarei (bis)
Louvores
Eu te exaltarei Senhor
De todo o meu coração bis
Na presença dos anjos a ti cantarei louvores
Fotos : by Ariovaldo Ribeiro