Cai a tarde, o Sol se
lança no horizonte e desenha caminhos em cores quentes que contrastam com os
verdes das planícies da Cidade de Ibiúna. A paineira está despida, uma beleza
sem igual se vê no firmamento. O lago se abre para receber a noite à espera da
Lua. Os pássaros sobrevoam de um lado ao outro com rasantes e cantos que mais
parecem uma louvação à Mãe Natureza.
É o quarto dia do
Seminário para Jovens com Oferenda de Trabalho. Nessa noite, a Cerimônia do Fogo
cela a passagem de muitos dos aqui estão presentes para o início de uma nova
jornada na prática do bem.
Seus olhos estavam fixos,
mergulhados no nada, o que denotava uma total perda de contato com a realidade.
Sua única preocupação era esconder os dedos queimados já com indícios de
deformação.
O firmamento continuava
amarelo com mais riscos em azul e diferentes tons e desenhos se perfilavam no
Céu. Senti o gélido do clima anunciando a ausência do Sol.
Essa era a quinta
conversa que durou quase todo o intervalo do jantar e banho. Contemplando o
firmamento, senti o silêncio humano em meio ao medo que ele demostrava, ao
saber que, no domingo, o Seminário estaria chegando ao fim.
– E aí? – o indaguei.
– Será que realmente
posso? – retrucou ele.
Continuamos por mais um
tempo sentados à frente da Secretaria da Academia de Ibiúna.
– Pode!
Ao ouvir essa afirmação,
seus olhos cansados se fixaram no que eu falava.
No interior de todo ser
humano, está oculta uma capacidade infinita. Dentro de você, vive a Vida de
Deus. Jesus Cristo nos ensina que o Reino de Deus está dentro de Nós. Você
possui natureza divina. Tudo está dentro de você. Neste mundo em que vivemos,
podemos mudar qualquer coisa justamente porque o perfeito está dentro do ser
humano. Você possui o Reino. Na Seicho-No-Ie, dizemos que você é Imagem
Verdadeira.
– Com treinamento diário,
uma nova reeducação nos sentimentos, dando sequência a tudo o que você viveu
aqui nestes quatro dias, e um pouco de disciplina, você pode.
Num lapso de segundos, vi
seu olhar de desespero se transformar em esperança.
Daí em diante, foi fácil.
Com a esperança de uma nova vida, ele seguiu meu conselho e contou ao seu Pai,
se abriu, pediu ajuda. Nesse momento, também descobriu que o Pai sempre o amou
e esse foi o diferencial em sua caminhada. Já fazem mais de oito anos dessa
tarde – mas ele segue firme limpo, hoje casado, vivendo uma vida com
significado.
Este é um caso de
sucesso, todavia não é um caso isolado. Mas o fato é que, nos últimos anos,
vimos em nossas cidades muitos jovens sitiados em campos que beiram o caos
humano. A “Cracolândia” era, até pouco tempo, uma área da cidade de São Paulo
no centro, antiga região onde já funcionou a “Boca do Lixo”, que estava ligada
a filmes com altas apelações pornográficas.
Hoje, esse mesmo fenômeno
do uso pelo crack se espalha pelas
cidades brasileiras como erva daninha, roubando o sono e a paz de muitas
famílias, sobretudo daquelas em que um membro da família troca o conforto do
lar e passa a viver mais como um zumbi do que como um ser humano. Antes
relegada à classe baixa, hoje essa droga se espalha pelas classes “A” e “B” da
sociedade.
Quem cai nas armadilhas
dessa droga, derivada da cocaína, sem que perceba, em um curto espaço de tempo tem
sua saúde devastada, todas as suas relações são destruídas e sua vida é
destroçada. Todos os valores desabam. Emprego, amigos, família (pais, cônjuge e
até os próprios filhos) caem na escala de valor de quem está possuído pela
droga. “O crack é a droga da
amoralidade”.
De acordo com os
trabalhos da CEDROGAS realizados no ano de 2012, em seminários de que pude
participar representando a Seicho-No-Ie, os números em dados do IBGE estão em
cerca de 1,2 milhão de usuários, e a idade média para o início do uso da droga
é de 13 anos. A degradação acontece em uma velocidade incontrolável. Em menos
de um mês, o fumante deixa de ser um ingênuo calouro em busca de novas
sensações para se tornar usuário contumaz, viciado e entregue aos efeitos
devastadores da droga. Ao contrário do que ocorre com a maconha, com o álcool e
mesmo com a cocaína, que, apesar do perigo extremo, demoram mais para provocar
danos degradantes, o crack causa
prejuízos em curtíssimo espaço de tempo.
Na
adolescência e início da idade adulta, muitas pessoas cometem excessos. O
motivo varia. Pode ser a timidez, a tentativa de se “enturmar”, a fantasia de
onipotência, a ânsia pelo novo, a ideia de rebeldia, entre outros fatores.
Acontece, porém, que quem vive sem uma fé correta ou mesmo uma afetividade que
supra essas carências poderá buscar compensações e manifestar dependências
comportamentais de jogos patológicos, sexo compulsivo, dependências por compras
e por internet, compulsão por esportes, o que são portas de entrada para uma
vida nas drogas.
O
professor Masaharu Taniguchi, no volume 36 de sua obra A verdade da vida, relata que o melhor para o homem é viver de modo
natural, e parece que, na juventude, o homem passa por uma fase na qual acha
melhor ser diferente, fora do natural. Acontece, porém, que muitas das escolhas
nessa fase, tais como o gosto pela bebida ou pelo cigarro, assim como o desejo
de ter secretamente outros parceiros sexuais, fazem parte da mente que busca
estímulos anormais e consolidam uma mente doentia.
Há estudos que apontam
que esses comportamentos, ditos de risco, se devem a alterações no cérebro em
desenvolvimento. Comprovadamente, há, nessa fase da vida, uma incapacidade de
avaliar riscos, o que prejudica as escolhas.
Segundo o estudo do
psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo, um dos
maiores especialistas no assunto no Brasil, o qual conheci no Seminário da
CEDROGAS, 30% dos viciados em crack
morrem antes de completarem cinco anos de uso. O que chega a ser um índice
maior que o da leucemia e de outras doenças graves. Outro ponto alarmante que
tomei conhecimento no Seminário foi o de que é raríssimo encontrar alguém que
use o crack apenas social e esporadicamente em função do seu elevado e
incomparável potencial viciante.
Surgido nos Estados
Unidos, o crack é, grosso modo, a
cocaína em pedra, para ser fumada em cachimbos ou latas. Ao ser tragada, a
droga atinge os pulmões e entra na corrente sanguínea instantaneamente,
chegando ao cérebro em menos de dez segundos, ao contrário da cocaína em pó,
que leva cerca de dez minutos para fazer o trajeto. No Brasil, uma pedra de
aproximadamente 5 gramas custa em média R$10,00 e é suficiente para três tragadas. Um custo alto se levarmos em conta que seu efeito é curto. Um vício
pago por pequenos crimes e, muitas vezes, pela prostituição.
Confiram alguns efeitos
no organismo:
Boca: porta de
entrada da droga, sofre com queimaduras, inflamações na gengiva, cáries e perda
de dentes.
Sistema digestivo: como
o organismo passa a trabalhar em função da droga, o dependente não tem vontade
de comer e emagrece muito rápido. Por isso, fica desnutrido. Úlceras gástricas
e diarreias também são frequentes.
Sistema reprodutor: quem
usa crack fica mais exposto a
comportamentos sexuais de risco. Pesquisa da Unicamp com 252 usuários de
cocaína e crack mostrou que 20%
tinham o vírus HIV e 67% dos entrevistados nunca usaram preservativo nas
relações sexuais. O dependente pode perder o interesse por sexo ou apresentar
impotência.
Dedos: de tanto
acender o cachimbo de crack, muitos
queimam os dedos a ponto de deformá-los.
Cérebro: o uso
crônico leva a danos cerebrais. A droga compromete a atenção, a fluência
verbal, a memória e as capacidades de aprendizagem, concentração e
planejamento. Paranoias também são comuns. Se ouve um barulho, o dependente
pode pensar tratar-se de um helicóptero que o está perseguindo, por exemplo.
Surtos psicóticos, perda de valores éticos e agressividade são outros comportamentos
observados.
Pulmões: são os
primeiros órgãos expostos às substâncias do crack.
Tosse por irritação dos brônquios e chiados no peito podem aparecer dentro de
minutos ou após várias horas de uso. Há casos de edema pulmonar.
Sistema
cardiovascular: são comuns sintomas de taquicardia, aumento da pressão
arterial e até arritmias, especialmente quando a droga é combinada com álcool.
Isso pode levar a um acidente vascular cerebral (AVC) ou a um infarto agudo do
miocárdio, mesmo em pessoas jovens (Disponível em: VEJA SP, 28 maio 2010 –
www.vejasp.com.br).
A recuperação tem de ser
de dentro para fora, e exige paciência e força de vontade.
O modo de viver da
Seicho-No-Ie constitui uma vida mental afinada. Segundo a Seicho-No-Ie, o homem,
à luz da sua Imagem Verdadeira, é a Vida Universal, a Sabedoria infinita, o
Amor infinito, a Vida infinita, a Alegria infinita e a Harmonia infinita, que
nasceu agora aqui na Terra. No cristianismo, aprendemos que o Reino está dentro
de nós.
Está é uma verdade
fundamental para uma vida feliz. São muitos os estudos que apontam que a
espiritualidade se faz essencial para a cura de todos os transtornos, os quais
levam o homem a uma vida de decadência.
Ao praticar a Verdade, ao
se reconciliar-se com todos os aspectos da sua caminhada, você irá desfrutar de
uma nova vida com novos significados.
A Meditação Shinsokan é a
maior viagem consciente. Não importa quantos recursos tenhamos: a felicidade
depende da expansão de afeto iniciando com os pais, a Vida e Deus.
Se já estiver nessa, busque
ajuda! Você não está sozinho. Hoje, inúmeras clínicas se dedicam à recuperação
da Vida. Concilie seu tratamento com leitura das obras da Seicho-No-Ie, tais
como: O livro dos jovens, Buscando o amor dos pais, A verdade da vida – volume 12. Eles
serão alicerces amigos e companheiros, fazendo um convite a renascer em
definitivo.
E, se você está sozinho e
se sente angustiado, o nosso convite é que venha fazer parte da Associação dos
Jovens da Seicho-No-Ie, um movimento que trabalha e incentiva a prática do Bem.
Venha se somar a inúmeros
jovens que optaram por serem felizes. Ao conhecer o modo natural preconizado
pela Seicho-No-Ie, você será livre.
Ariovaldo Adriano Ribeiro
Aspirante a preletor da
Sede Internacional.
Ex-viciado em cocaína e
que, graças a Seicho-No-Ie, hoje celebra a alegria de uma vida em comunhão com
Deus.
Publicado na Revista Mundo Ideal ANO XX N.º 235 FEV 2014
O crack em números:
370 mil usam a droga nas capitais
80% dos usuários são homens
80% usam droga em local público
80% são não brancos
65% fazem “bicos” para sobreviver
65% fazem “bicos” para sobreviver
60% são solteiros
40% vivem nas ruas
40% estão no Nordeste
30% das usuárias já fizeram sexo para obter a droga
10% das usuárias ouvidas estavam grávidas
Usuários têm 8 vezes mais HIV
Tempo médio de uso é de 8 anos
16 é a média de pedras por dia
16 é a média de pedras por dia
(Disponível em: <http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2013/09/brasil-tem-370-mil-usuarios-regulares-de-crack-nas-capitais-aponta-fiocruz.html>).
Reverências, Muito Obrigada!
ResponderExcluirEsse artigo veio no momento em que pedi orientação a Deus de como divulgar o ensinamento aos adolescentes que cometeram ato infracional onde trabalho, com sabedoria, levando-os a um caminho de luz, como verdadeiros Filhos de Deus Perfeitos que somos, muito obrigada, Preletor Ariovaldo pelo seu exemplo, coragem e dedicação!
Um ano de muitas bençãos, sucesso, luz e energia positiva!
Muito Obrigada!
Simone.
Olá
ResponderExcluirSimone, parabéns pela sua iniciativa de levar aos adolescentes valores importantes para os dias atuais.
Sucesso,
Muito Obrigado,
Ariovaldo Ribeiro