quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Crack: você pode vencer!

Cai a tarde, o Sol se lança no horizonte e desenha caminhos em cores quentes que contrastam com os verdes das planícies da Cidade de Ibiúna. A paineira está despida, uma beleza sem igual se vê no firmamento. O lago se abre para receber a noite à espera da Lua. Os pássaros sobrevoam de um lado ao outro com rasantes e cantos que mais parecem uma louvação à Mãe Natureza.

É o quarto dia do Seminário para Jovens com Oferenda de Trabalho. Nessa noite, a Cerimônia do Fogo cela a passagem de muitos dos aqui estão presentes para o início de uma nova jornada na prática do bem.

Seus olhos estavam fixos, mergulhados no nada, o que denotava uma total perda de contato com a realidade. Sua única preocupação era esconder os dedos queimados já com indícios de deformação.

O firmamento continuava amarelo com mais riscos em azul e diferentes tons e desenhos se perfilavam no Céu. Senti o gélido do clima anunciando a ausência do Sol.

Essa era a quinta conversa que durou quase todo o intervalo do jantar e banho. Contemplando o firmamento, senti o silêncio humano em meio ao medo que ele demostrava, ao saber que, no domingo, o Seminário estaria chegando ao fim.

– E aí? – o indaguei.
– Será que realmente posso? – retrucou ele.

Continuamos por mais um tempo sentados à frente da Secretaria da Academia de Ibiúna.

– Pode!

Ao ouvir essa afirmação, seus olhos cansados se fixaram no que eu falava.
No interior de todo ser humano, está oculta uma capacidade infinita. Dentro de você, vive a Vida de Deus. Jesus Cristo nos ensina que o Reino de Deus está dentro de Nós. Você possui natureza divina. Tudo está dentro de você. Neste mundo em que vivemos, podemos mudar qualquer coisa justamente porque o perfeito está dentro do ser humano. Você possui o Reino. Na Seicho-No-Ie, dizemos que você é Imagem Verdadeira.

– Com treinamento diário, uma nova reeducação nos sentimentos, dando sequência a tudo o que você viveu aqui nestes quatro dias, e um pouco de disciplina, você pode.

Num lapso de segundos, vi seu olhar de desespero se transformar em esperança.

Daí em diante, foi fácil. Com a esperança de uma nova vida, ele seguiu meu conselho e contou ao seu Pai, se abriu, pediu ajuda. Nesse momento, também descobriu que o Pai sempre o amou e esse foi o diferencial em sua caminhada. Já fazem mais de oito anos dessa tarde – mas ele segue firme limpo, hoje casado, vivendo uma vida com significado.

Este é um caso de sucesso, todavia não é um caso isolado. Mas o fato é que, nos últimos anos, vimos em nossas cidades muitos jovens sitiados em campos que beiram o caos humano. A “Cracolândia” era, até pouco tempo, uma área da cidade de São Paulo no centro, antiga região onde já funcionou a “Boca do Lixo”, que estava ligada a filmes com altas apelações pornográficas.

Hoje, esse mesmo fenômeno do uso pelo crack se espalha pelas cidades brasileiras como erva daninha, roubando o sono e a paz de muitas famílias, sobretudo daquelas em que um membro da família troca o conforto do lar e passa a viver mais como um zumbi do que como um ser humano. Antes relegada à classe baixa, hoje essa droga se espalha pelas classes “A” e “B” da sociedade.

Quem cai nas armadilhas dessa droga, derivada da cocaína, sem que perceba, em um curto espaço de tempo tem sua saúde devastada, todas as suas relações são destruídas e sua vida é destroçada. Todos os valores desabam. Emprego, amigos, família (pais, cônjuge e até os próprios filhos) caem na escala de valor de quem está possuído pela droga. “O crack é a droga da amoralidade”.

De acordo com os trabalhos da CEDROGAS realizados no ano de 2012, em seminários de que pude participar representando a Seicho-No-Ie, os números em dados do IBGE estão em cerca de 1,2 milhão de usuários, e a idade média para o início do uso da droga é de 13 anos. A degradação acontece em uma velocidade incontrolável. Em menos de um mês, o fumante deixa de ser um ingênuo calouro em busca de novas sensações para se tornar usuário contumaz, viciado e entregue aos efeitos devastadores da droga. Ao contrário do que ocorre com a maconha, com o álcool e mesmo com a cocaína, que, apesar do perigo extremo, demoram mais para provocar danos degradantes, o crack causa prejuízos em curtíssimo espaço de tempo.

Na adolescência e início da idade adulta, muitas pessoas cometem excessos. O motivo varia. Pode ser a timidez, a tentativa de se “enturmar”, a fantasia de onipotência, a ânsia pelo novo, a ideia de rebeldia, entre outros fatores. Acontece, porém, que quem vive sem uma fé correta ou mesmo uma afetividade que supra essas carências poderá buscar compensações e manifestar dependências comportamentais de jogos patológicos, sexo compulsivo, dependências por compras e por internet, compulsão por esportes, o que são portas de entrada para uma vida nas drogas.

O professor Masaharu Taniguchi, no volume 36 de sua obra A verdade da vida, relata que o melhor para o homem é viver de modo natural, e parece que, na juventude, o homem passa por uma fase na qual acha melhor ser diferente, fora do natural. Acontece, porém, que muitas das escolhas nessa fase, tais como o gosto pela bebida ou pelo cigarro, assim como o desejo de ter secretamente outros parceiros sexuais, fazem parte da mente que busca estímulos anormais e consolidam uma mente doentia.

Há estudos que apontam que esses comportamentos, ditos de risco, se devem a alterações no cérebro em desenvolvimento. Comprovadamente, há, nessa fase da vida, uma incapacidade de avaliar riscos, o que prejudica as escolhas.

Segundo o estudo do psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo, um dos maiores especialistas no assunto no Brasil, o qual conheci no Seminário da CEDROGAS, 30% dos viciados em crack morrem antes de completarem cinco anos de uso. O que chega a ser um índice maior que o da leucemia e de outras doenças graves. Outro ponto alarmante que tomei conhecimento no Seminário foi o de que é raríssimo encontrar alguém que use o crack apenas social e esporadicamente em função do seu elevado e incomparável potencial viciante.

Surgido nos Estados Unidos, o crack é, grosso modo, a cocaína em pedra, para ser fumada em cachimbos ou latas. Ao ser tragada, a droga atinge os pulmões e entra na corrente sanguínea instantaneamente, chegando ao cérebro em menos de dez segundos, ao contrário da cocaína em pó, que leva cerca de dez minutos para fazer o trajeto. No Brasil, uma pedra de aproximadamente 5 gramas custa em média R$10,00 e é suficiente para três tragadas. Um custo alto se levarmos em conta que seu efeito é curto. Um vício pago por pequenos crimes e, muitas vezes, pela prostituição.

Confiram alguns efeitos no organismo:

Boca: porta de entrada da droga, sofre com queimaduras, inflamações na gengiva, cáries e perda de dentes.
Sistema digestivo: como o organismo passa a trabalhar em função da droga, o dependente não tem vontade de comer e emagrece muito rápido. Por isso, fica desnutrido. Úlceras gástricas e diarreias também são frequentes.
Sistema reprodutor: quem usa crack fica mais exposto a comportamentos sexuais de risco. Pesquisa da Unicamp com 252 usuários de cocaína e crack mostrou que 20% tinham o vírus HIV e 67% dos entrevistados nunca usaram preservativo nas relações sexuais. O dependente pode perder o interesse por sexo ou apresentar impotência.
Dedos: de tanto acender o cachimbo de crack, muitos queimam os dedos a ponto de deformá-los.
Cérebro: o uso crônico leva a danos cerebrais. A droga compromete a atenção, a fluência verbal, a memória e as capacidades de aprendizagem, concentração e planejamento. Paranoias também são comuns. Se ouve um barulho, o dependente pode pensar tratar-se de um helicóptero que o está perseguindo, por exemplo. Surtos psicóticos, perda de valores éticos e agressividade são outros comportamentos observados.
Pulmões: são os primeiros órgãos expostos às substâncias do crack. Tosse por irritação dos brônquios e chiados no peito podem aparecer dentro de minutos ou após várias horas de uso. Há casos de edema pulmonar.
Sistema cardiovascular: são comuns sintomas de taquicardia, aumento da pressão arterial e até arritmias, especialmente quando a droga é combinada com álcool. Isso pode levar a um acidente vascular cerebral (AVC) ou a um infarto agudo do miocárdio, mesmo em pessoas jovens (Disponível em: VEJA SP, 28 maio 2010 – www.vejasp.com.br).

A recuperação tem de ser de dentro para fora, e exige paciência e força de vontade.

O modo de viver da Seicho-No-Ie constitui uma vida mental afinada. Segundo a Seicho-No-Ie, o homem, à luz da sua Imagem Verdadeira, é a Vida Universal, a Sabedoria infinita, o Amor infinito, a Vida infinita, a Alegria infinita e a Harmonia infinita, que nasceu agora aqui na Terra. No cristianismo, aprendemos que o Reino está dentro de nós.
Está é uma verdade fundamental para uma vida feliz. São muitos os estudos que apontam que a espiritualidade se faz essencial para a cura de todos os transtornos, os quais levam o homem a uma vida de decadência.


Você pode, em qualquer momento, ao conhecer sua Natureza Divina, vencer.

Ao praticar a Verdade, ao se reconciliar-se com todos os aspectos da sua caminhada, você irá desfrutar de uma nova vida com novos significados.

A Meditação Shinsokan é a maior viagem consciente. Não importa quantos recursos tenhamos: a felicidade depende da expansão de afeto iniciando com os pais, a Vida e Deus.

Se já estiver nessa, busque ajuda! Você não está sozinho. Hoje, inúmeras clínicas se dedicam à recuperação da Vida. Concilie seu tratamento com leitura das obras da Seicho-No-Ie, tais como: O livro dos jovens, Buscando o amor dos pais, A verdade da vida – volume 12. Eles serão alicerces amigos e companheiros, fazendo um convite a renascer em definitivo.

E, se você está sozinho e se sente angustiado, o nosso convite é que venha fazer parte da Associação dos Jovens da Seicho-No-Ie, um movimento que trabalha e incentiva a prática do Bem.

Venha se somar a inúmeros jovens que optaram por serem felizes. Ao conhecer o modo natural preconizado pela Seicho-No-Ie, você será livre.

Ariovaldo Adriano Ribeiro
Aspirante a preletor da Sede Internacional.
Ex-viciado em cocaína e que, graças a Seicho-No-Ie, hoje celebra a alegria de uma vida em comunhão com Deus.

Publicado na Revista Mundo Ideal ANO XX N.º 235 FEV 2014

O crack em números:
 
370 mil usam a droga nas capitais
80% dos usuários são homens
80% usam droga em local público
80% são não brancos
65% fazem “bicos” para sobreviver
60% são solteiros
40% vivem nas ruas
40% estão no Nordeste
30% das usuárias já fizeram sexo para obter a droga
10% das usuárias ouvidas estavam grávidas
Usuários têm 8 vezes mais HIV
Tempo médio de uso é de 8 anos
16 é a média de pedras por dia 



2 comentários:

  1. Reverências, Muito Obrigada!

    Esse artigo veio no momento em que pedi orientação a Deus de como divulgar o ensinamento aos adolescentes que cometeram ato infracional onde trabalho, com sabedoria, levando-os a um caminho de luz, como verdadeiros Filhos de Deus Perfeitos que somos, muito obrigada, Preletor Ariovaldo pelo seu exemplo, coragem e dedicação!

    Um ano de muitas bençãos, sucesso, luz e energia positiva!

    Muito Obrigada!

    Simone.

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  2. Olá
    Simone, parabéns pela sua iniciativa de levar aos adolescentes valores importantes para os dias atuais.
    Sucesso,
    Muito Obrigado,
    Ariovaldo Ribeiro

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